Caro(a) leitor(a),
Muita gente me pergunta como faço os meus investimentos.
Algumas pessoas são abertas comigo - querem replicar o que eu faço (normalmente a uma escala - nem sempre menor - diferente).
Neste artigo quero explorar 1) a possibilidade de fazer isso, 2) o quão útil e certo isso seria e 3) algumas notas sobre este assunto.
É possível replicar?
Em primeiro lugar, temos que dividir os meus investimentos imobiliários em duas partes, para percebermos melhor como escrutinar esta questão:
- Imobiliário físico;
- Investimentos nos mercados financeiros, via REITs.
Essencialmente eu comecei a investir em imobiliário via REITs, empresas de investimento imobiliário cotadas em bolsa e com uma regulamentação muito específica.
Lembro-me perfeitamente de investir com 16 anos, e de basicamente passar horas e horas em fóruns da especialidade onde basicamente se analisavam os imóveis desses REITs e todos os outros aspetos dessas empresas.
Hoje, os REITs constituem uma parte mais pequena dos meus investimentos imobiliários, embora nos últimos tempos tenha vindo a crescer o meu portfólio.
Relativamente ao imobiliário físico invisto já há vários anos e é aquilo que verdadeiramente me apaixona.
E queria frisar o ponto “há vários anos”.
Este é um ponto central para analisarmos a possibilidade de realmente replicar os meus investimentos.
Repare, o mercado imobiliário é um mercado relacional, como eu digo várias vezes, e explico melhor neste video:
Em quase 10 anos de investimento em imobiliário físico, consegue imaginar a quantidade de pessoas com que fiz negócios?
A quantidade de agentes e outros “players” imobiliários, com quem fiz negócios recorrentes?
Há até uma história representativa.
Em 2016 comprei um edifício multi-fração - para replicar um investimento convém conhecer os tipos de imóveis em que alguém investe - a um senhor.
Poucos dias depois da escritura, recebi uma chamada de uma filha dele que me dizia que tinha ela mesmo um prédio para venda.
Afinal de contas, “sabia que eu era investidor”.
O negócio foi maravilhoso. E o negócio só foi possível porque comprei um imóvel ao pai dela.
Se o imóvel tivesse sido exposto ao mercado, eu não o teria comprado pelo preço que comprei, estou hoje em crer.
E o que me fez obter este negócio? O que fez o negócio chegar até mim?
Estar no mercado, e mostrar a minha credibilidade, essencialmente.
Agora pense comigo: o que é que é replicável nesta história?
Há muito pouco que se possa replicar na forma como eu invisto, até porque porque possuo um conhecimento invulgar dos mercados, porque estou no mercado há muitos anos e porque negoceio em volume e tenho uma estrutura.
A boa notícia é que existe uma parte boa: pode beber da minha experiência. Ou seja, se não pode replicar o que eu faço, pode aprender com o que eu faço, e aplicar esse conhecimento à sua maneira.
Essa na realidade é a melhor forma de obter sucesso - não a replicar (receber o peixe) mas a aprender (saber pescar).
No entanto, um conjunto de pessoas não tem tempo para aprender ou colocar o conhecimento em prática.
É normal; há muita gente com uma carreira bem sucedida, da qual não querem abdicar para investir em imobiliário.
Essas são normalmente as pessoas que buscam como replicar bons negócios.
Vamos ao meu segundo investimento imobiliário, os REITs.
Sim, seria mais fácil replicar os meus investimentos em REITs.
Afinal de contas, não é preciso estar no mercado há muitos anos para investir em REITs. Pessoalmente, não conheço quem os gere. Não conheço quem os troca. Posso fazê-lo atrás do meu computador. Por isso, é possível replicar os meus investimentos.
Em todo o caso, não é esse o objectivo.
Admito sim que ficaria satisfeito se alguém pegar nos meus métodos e análises para REITs e os aplique - sempre adaptando ao seu próprio caso - com sucesso.
É por isso que lançámos uma série nova no nosso canal, onde analiso REITs como analista externo da XTB:
O objetivo não é que replique (agarre peixe), longe disso!
O objetivo é que já formando o seu métodos (a cana).
Mas é acertado replicar os investimentos de outras pessoas?
Em primeiro lugar, o meu objetivo com a série de análise de REITs não é que replique os meus investimentos.
Eu não sou conselheiro financeiro, nem quero ser.
O meu objectivo não é nem nunca foi dizer-lhe em que investir. Afinal de contas, o seu perfil pode ser totalmente diferente do meu e na realidade eu não o(a) conheço, nem a si nem à sua situação financeira.
Seria imprudente dar-lhe conselhos daquilo em que investir.
Mas há algo que me parece muito prudente: dizer-lhe como eu invisto.
A partir daí cabe-lhe a si investir de acordo com o seu perfil, retirando o melhor daquilo que eu faço e integrando-o naquilo que você faz.
Este é na realidade um ponto crucial - os melhores investimentos são, como eu digo, os que nos deixam confortáveis.
Por exemplo, no caso dos REITs, eu uso um ditado “tens que ficar comigo nos piores tempos para me venderes nos melhores tempos”.
Trocado por miúdos, o facto dos REITs baixarem não me faz muita confusão.
A maior parte do meu portfólio de REITs está estruturado para nunca ser vendido.
Isto significa, por exemplo, que pude simplesmente deitar-me para trás e olhar para o mercado sem grande medo, com a recente queda de até 70% devido ao COVID19.
Porquê?
Porque provavelmente vou ainda deter a maior parte do meu portfólio daqui a 10 anos.
Mas muitos investidores, estou certo, estariam em pânico se estivessem no meu lugar, e provavelmente teriam vendido tudo.
Curiosamente, quando o mercado imobiliário físico baixa, as pessoas não vão a correr vender os imóveis porque eles valem metade do valor.
Por tudo isto, replicar investimentos não faz sentido.
Não é o que eu quero que faça com o que lhe ensino e mostro, mas acima de tudo é algo com o qual não concordo e não acredito ser bom.
Deixo-lhe a ideia base deste artigo novamente: aprenda a pescar, não se deixe iludir por ter peixes de graça.
Até ao próximo artigo,
Um abraço,
Artur Mariano