Caro(a) leitor(a),
Um dos principais atributos de uma pessoa bem sucedida, na minha opinião, é a capacidade de fazer limonadas com os limões que a vida lhe dá.
No imobiliário, o potencial de sucesso é imenso e portanto isso aplica-se ainda mais.
Tanto que muitas vezes me pergunto como é que tão poucas pessoas vêem o imobiliário como o escape natural do sistema financeiro (ou, se quiser, ficar “on FIRE”).
Na realidade entendo que é falta das pessoas serem expostas ao conceito e, acima de tudo, ao conhecimento necessário para lá chegar.
Além disso, também é evidente que as pessoas querem um atalho simples, uma forma rápida de chegar ao sucesso.
Veja por exemplo este comentário recente no nosso canal de Youtube:
A pergunta certa não é “tenho um pouco de dinheiro, como posso atingir FIRE”.
A pergunta certa é “já estudei, já reflecti, é este o meu objectivo na vida agora - o que preciso de fazer para lá chegar? Estou disposto a tudo!”.
Esse sim, é o “mindset” certo.
E numa jornada - seja ela para FIRE ou não - em busca do sucesso no imobiliário, é inevitável aparecem imensos problemas pelo caminho.
Os tais limões.
E, acredite, numa jornada longa em imobiliário, aparecem muitos.
Neste artigo vou-lhe contar três histórias que me aconteceram nesse seguimento.
Convido-o a reflectir sobre como você mesmo reagiria caso estivesse no meu lugar.
O imóvel do lado vai ruir para dentro do meu
Esta é daquelas histórias inacreditáveis que parecem ser um limão enorme.
Aconteceu recentemente.
O meu empreiteiro ligou e disse que tinha que parar a obra porque a parede do nosso prédio que confronta com o prédio do lado (uma única parede, meeira, portanto) estava a “entrar para dentro do nosso prédio”.
Na verdade estava literalmente a ruir para dentro do nosso prédio.
A pedra era fraca, não reforçada e o cimento havia deteriorado com os anos.
Pior, o problema é que a parede tinha que ser composta pelo outro prédio, nunca pelo nosso.
Depois de muitos contactos (aliás, este é muitas vezes um problema enorme - encontrar o contacto da pessoa com quem precisamos falar), cheguei ao proprietário.
Em contacto com ele, sensibilizei-o para a urgência e importância da obra.
Em termos de urgência, era tanta que a obra tinha que ser executada com a maior brevidade possível, num espaço máximo de 15 dias.
E, como o meu empreiteiro viu o problema, aproveitámos para orçamentar a obra e assim dar uma ideia ao proprietário: 7.000,00€.
Imediatamente, o proprietário atirou-me um limão “não tenho possibilidades”.
E com uma resposta cuidada da minha parte, o mesmo ofereceu-se para me vender o prédio, algo que eu sabia que podia ser a limonada que o limão geraria.
Em 5 minutos acordámos o preço (que eu já tinha majorado ao que me interessava pagar) e em poucos dias tratámos da contratualização formal.
O inquilino “já não quer o imóvel”
Em certos mercados onde opero, a falta de habitação de qualidade é tanta que as pessoas por vezes entram em métodos pouco convencionais para “agarrar” as casas boas que surgem.
Um exemplo disso foi uma casa que reservei com um telefonema de um inquilino.
O inquilino insistiu em ficar com a casa vendo as fotos e um vídeo que lhe foi enviado. Eu insisti que preferia uma visita, mas o inquilino insistiu em arrendar o imóvel dessa forma.
Pagou a caução (elevada), mostrou fiador no contrato, etc.
Tudo certo - e contratualizámos o arrendamento.
Quando o inquilino chegou ao imóvel, passado uns dias (vivia longe), disse que afinal não gostava do imóvel.
Queria reverter o processo e, “naturalmente”, receber de volta o mês de renda pago e a caução.
Naturalmente - agora sem aspas - que assim que o contrato foi formalizado, eu deixei de mostrar o apartamento e perdi com isso as chances de o arrendar.
Logo, não reverti a situação.
Contactado por advogados (repare o leitor no limão enorme que me foi atirado), fazendo referência a “erros no contrato”, aos quais eu lhes respondi com o livro do Dr. Sérgio Vaz “Domine a lei imobiliária”.
Os “erros” eram aquilo que sempre são: tentativas de anular um contrato correcto, às vezes com pequeninos lapsos, mas que no geral está “cobertíssimo” com as cláusulas chave.
Propus algo ao inquilino, para tentar fazer uma limonada com esse limão: caso o inquilino nunca habitasse no imóvel, eu ficaria apenas com as 4 rendas já pagas, e abdicaria do resto do contrato.
Depois de muitas contra-propostas, chegámos ao mesmo acordo que propus inicialmente, ou seja ficar com as 4 rendas.
Devo notar que esta situação foi muito antes do período em que de facto os senhorios se tornaram fiadores dos inquilinos, devido à pandemia da COVID19.
E porque é que este limão passou a ser uma limonada?
Porque no mês seguinte arrendei novamente o imóvel.
Nunca - de forma nenhuma - promoverei que os senhorios tirem vantagem dos inquilinos, e que entrem em disputas titânicas que não fazem sentido (esta envolve uma reclamação de quase 200.000,00€!).
O que defendo sim é que ambas as partes cumpram o seu papel. E não sendo aceitável que um senhorio simplesmente ignore os pedidos dos inquilinos, também não é aceitável que os inquilinos segurem imóveis e depois se queiram ver livres deles, porque “já não gostam” ou encontram outro que gostem mais.
Este é também um dos casos em que “deter é poder”.
E mais que isso, é um daqueles casos em que a responsabilidade do senhorio e do inquilino andam de mãos dadas, algo que eu cobri extensivamente neste vídeo:
O condomínio não quer pagar a obra
Num imóvel houve um problema com uma obra nas partes comuns e o condomínio não quis pagar a obra.
Essencialmente não havia seguro das partes comuns e as pessoas não queriam pagar nada.
Como bons portugueses, o telhado é consertado no inverno, depois das infiltrações: enquanto há sol não há problemas.
Para meu espanto, a maior parte das pessoas concordou em “arrastar” o problema.
Pois bem, o problema cresceu e bem - digamos que ficou bastante mais complicado e o custo quadruplicou.
A certa altura, já era impossível ignorá-lo e aconteceu uma inundação enorme que, não só danificou aquilo que já se previa como o resto do imóvel mas também uma série de outras coisas e as garagens de todos os residentes.
Conclusão: o valor foi todo pago por inteiro mas ao invés de resolver um pequeno problema no imóvel, acabei por ter toda a remodelação financiada por aqueles que se negaram taxativamente a pagar o problema original.
Pelo caminho, um dos condóminos ainda me ofereceu o seu imóvel, a um preço apelativo, porque agora “não tinha possibilidade de pagar os danos”.
Um limão que acabou por virar uma limonada.
Em suma, o que é importante é ter razão. Quando se tem razão, pode-se estar tranquilo quanto ao desfecho das situações.
E vários limões são oportunidades para fazer limonadas.
Nem todos, claro.
Mas são muito mais do que aqueles que aparentam.
Seja um profissional das limonadas!
Um abraço,
Artur Mariano.
Excelente artigo. Parabéns.